terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Resíduos Sólidos Urbanos

O crescimento das cidades, com elevada concentração populacional e expansão das áreas urbanas, associado à industrialização e ao alto consumo de bens e serviços, são fatores que têm contribuído para a formação de um cenário urbano com muitos impactos sociais e ambientais, que estão intimamente relacionados à geração e inadequada destinação dos resíduos, conseqüência do atual modelo de produção e consumo.

Aquilo que jogamos 'fora' está, na verdade, muito próximo a nós. (Foto: Roosewelt Pinheiro/AgBr)

Segundo o dicionário Aurélio, resíduos são remanescentes ou restos, ou seja, aquilo tudo que sobra de algum processo ou sistema. Lixo é definido como tudo o que não presta e se joga fora; coisas inúteis, velhas, sem valor; resíduos que resultam de atividades domésticas, industriais, comerciais, etc. (Fonte: Ferreira, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª ed, Curitiba: Positivo, 2004)
Para tais definições, dois pontos merecem atenção: o primeiro é que resíduo e lixo nem sempre são sinônimos, já que o resto de alguma atividade ou processo pode ser reaproveitado em outro momento, deixando de ser algo sem valor, tornando-se matéria-prima. O segundo ponto é que, frente à escassez de espaço para disposição dos resíduos, cada vez mais vemo-nos inspirados a superar a idéia da existência do “jogar fora” , pois na prática, não existe o ‘fora’.
Torna-se necessário, portanto, considerar que em todo ciclo de um produto (que vai da extração da matéria-prima até o descarte pós-uso) – ou de um serviço – é possível tanto REUTILIZAR quanto RECICLAR diversos materiais ou sobras, integrando-os em outros ciclos de produção e consumo. É fundamental, ainda, REDUZIR a produção de resíduos sólidos, através de simples atitudes, por exemplo, baseadas no consumo consciente ou na eficientização de processos produtivos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta dois conceitos importantes, distinguindo resíduos e rejeitos:
RESÍDUOS SÓLIDOS: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semi-sólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

REJEITOS: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
De acordo com o texto da PNRS, resíduos sólidos são aqueles que se encontram também nos estados líquido e gasoso, constituídos, principalmente, pelos efluentes de diversas atividades humanas. Há, no entanto, outros tipos de resíduos em estado líquido tais como o chorume, potencial contaminante de lençóis freáticos. Cabe ressaltar, por fim, que há alguns resíduos líquidos especiais, tais como o mercúrio, que são altamente tóxicos.

LEGISLAÇÃO

  • Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10) (Download)
  • Versão Preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Download)
  • Proposta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Download)


Tratamento e Destinação

Abaixo estão listadas algumas formas de pré-tratamento, tratamento e destinação – práticas mais comuns – para resíduos sólidos urbanos e suas vantagens e desvantagens associadas:

1. TECNOLOGIAS DE PRÉ-TRATAMENTO

A seguir encontram-se algumas tecnologias de pré-tratamento de resíduos sólidos urbanos:
  • RECICLAGEM

    Este tipo de tratamento envolve várias atividades interligadas e tem como principal objetivo a retirada de materiais diferenciados, o tratamento e o retorno destes ao ciclo produtivo, reduzindo os volumes de resíduos a serem dispostos nos aterros ou enviados a outros tipos de tratamentos finais, viabilizando, desta maneira, a redução de matéria-prima necessária aos processos produtivos industriais. Muitos materiais podem ser reciclados e os mais comuns são vidros de diferentes cores, diferentes tipos de papel, latas de ferro e alumínio, tipos de plástico, madeira e etc.
Vantagens:
Aumento da vida útil dos aterros sanitários;
Economia no consumo de energia;
Economia no gasto com transporte;
Geração de emprego e renda;
Otimização da reutilização ou coprocessamento;
Preservação de recursos naturais e insumos.
Desvantagens:
Transporte para coleta diferenciada;
Alteração do processo tecnológico para o beneficiamento, quando da reutilização de materiais no processo industrial.

  • LOGÍSTICA REVERSA
A Logística Reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo de vida ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (PNRS – Lei 12.305/2010. Capítulo II, Art. 3º: Definições).
Com a aprovação da PNRS, a necessidade da aplicação da Logística Reversa ficou ainda mais explícita e é citada em todos os planos para implementação da Política: Plano Nacional de Resíduos Sólidos, Planos Estaduais de Resíduos Sólidos, Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – empresariais. O Artigo 33º da Lei supracitada menciona tal obrigatoriedade:
“São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
I – agrotóxicos
II – pilhas e baterias;
III – pneus;
IV – óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V – lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI – produtos eletroeletrônicos e seus componentes”.
Vantagens:
Diminuição de materiais a serem coletados e dispostos, de maneira comum;
Retirada de produtos potencialmente perigosos da coleta e destinação tradicionais;
Economia de recurso ambiental, gerando ganhos financeiros.
Desvantagens:
Dependência de acordo entre os diversos setores envolvidos, representados pelo poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes;
Falta de sistemas informatizados que se integrem ao sistema existente de logística.
  • TRITURAÇÃO
Após a segregação prévia, os resíduos são triturados e o produto final pode ser reutilizado ou reciclado. A trituração é uma técnica complementar à reciclagem e à compostagem, além de reduzir a granulometria do material resultante e o custo de transporte. Entretanto, o mecanismo de trituração vai depender do tipo de resíduo a ser processado. Normalmente, os resíduos que são encaminhados à trituração são vidros, pneu e resíduos de construção civil (RCC).
Vantagens:
Redução do volume de resíduos sólidos;
Oportunidade de reciclagem e reaproveitamento do material triturado;
Redução do custo de transporte.
Desvantagens:
Em determinados tipos de trituração, há alto custo de manutenção e operação, além de um alto consumo de eletricidade.

2. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO E DESTINAÇÃO

A seguir são apresentadas algumas tecnologias para tratamento de resíduos sólidos urbanos:
  • COMPOSTAGEM



    A compostagem pode ser definida como um processo aeróbio e controlado de reciclagem da matéria orgânica presente nos resíduos sólidos urbanos. A decomposição biológica e estabilização da matéria resulta em composto orgânico, cuja utilização no solo não oferece riscos ao meio ambiente.
    Segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a compostagem é uma solução de tratamento e não somente de destinação final. Contudo, do total de 94.335,1 t/d de resíduos orgânicos coletados somente 1,6% é encaminhado para tratamento via compostagem.
    Vantagens:
    Baixa complexidade na obtenção da licença ambiental;
    Diminuição da carga orgânica no material/rejeito a ser enviado ao aterro, minimizando os volumes a serem dispostos;
    Facilidade de monitoramento;
    Possibilidade de geração de empregos e envolvimento da comunidade do entorno;
    Tecnologia conhecida e de fácil implantação;
    Viabilidade comercial para venda do composto gerado.
    Desvantagens:
    Baixa qualidade do composto e consequente dificuldade na comercialização;
    Geração de odores e efluentes, caso haja manipulação inadequada na produção.

    • TRATAMENTO MECÂNICO BIOLÓGICO (TMB)
    O Sistema de Tratamento Mecânico Biológico (TMB) é definido como o método de tratamento de resíduos que inclui processos de triagem de inertes e tratamento biológico dos materiais orgânicos, por meio da compostagem ou digestão anaeróbia (Ministério do Meio Ambiente, 2010 apud Arcadis Tetraplan, 2011).
    Vantagens:
    Aceleração do processo metanogênico da decomposição dos resíduos orgânicos, em virtude da separação dos resíduos pela tecnologia;
    Menor exposição dos trabalhadores com os resíduos;
    Possibilidade de maior higienização do espaço de trabalho;
    Redução de gases do efeito estufa (GEEs) e obtenção de créditos de carbono;
    Redução de resíduos a serem enviados para disposição final de aterros;
    Tecnologia conhecida, e de pouca complexidade para obtenção da licença ambiental.
    Desvantagens:
    Composto produzido pode apresentar teores elevados de metais pesados, devido à dificuldade de seleção prévia do material;
    Por ser instalado em área fechada, o grande acúmulo de partículas em suspensão pode causar problemas de saúde dos trabalhadores.
    • INCINERAÇÃO
    A incineração é uma alternativa de tratamento para redução do volume e do peso dos resíduos sólidos. O processo consiste na combustão dos resíduos à alta temperatura, por meio de excesso de oxigênio, em que os materiais à base de carbono são decompostos, gerando calor; como remanescentes têm-se gases, cinzas e escórias (IBAM, 2001 e SCHALCH et al, 2002 apud Arcadis Tetraplan, 2011). O calor gerado também pode ser aproveitado como forma de produção de energia elétrica e vapor, portanto o processo de incineração também pode ser considerado como um processo de reciclagem da energia liberada na queima de materiais (LANÇA, SILVA, 2007 apud Arcadis Tetraplan, 2011).
    Vantagens:
    Aplicável a diversos tipos de resíduos;
    Aumento da vida útil dos locais para disposição final (ex: aterros);
    Degradação completa dos resíduos e quebra das moléculas dos componentes perigosos;
    Geração de calor e energia, possibilitando a cogeração;
    Utilização de pequenas áreas para implantação.
    Desvantagens:
    Alto custo de implantação;
    Falta de procedimentos normativos por parte das esferas governamentais para obtenção da licença ambiental;
    Geração de cinzas, que devem ser corretamente dispostas de acordo com a sua composição;
    Geração de emissões atmosféricas, que devem ser controladas.

    • PIRÓLISE
    Essa tecnologia realiza a destruição térmica de materiais orgânicos, como a incineração, no entanto a diferença entre esses tratamentos é que o processo da pirólise é realizado na ausência total ou parcial de um agente oxidante e absorve calor (FIRJAN, 2006 apud Arcadis Tetraplan, 2011). Assim qualquer tipo de material orgânico se decompõe, dando origem a três fases: uma sólida, o carvão vegetal; outra gasosa; e finalmente, outra líquida, frequentemente designada de fração pirolenhosa (extrato ou bioóleo).
    Vantagens:
    Área reduzida para implantação dos reatores pirolíticos;
    Oportunidade de trabalho em centros de triagem;
    Redução substancial do volume de resíduos a ser disposto.
    Desvantagens:
    Alto consumo de água no processo;
    Elevado custo de tratamento dos efluentes gasosos e líquidos;
    Difícil manutenção, que exige constante limpeza no sistema de alimentação de combustível auxiliar, exceto se for utilizado gás natural;
    Risco de contaminação do ar pela emissão de materiais particulados;
    Tecnologia pouco difundida no Brasil.

    • COPROCESSAMENTO
    O coprocessamento é uma tecnologia empregada em países europeus, Estados Unidos e Japão há quase 40 anos. No Brasil, a técnica é utilizada desde o início da década de 90, na qual é realizada a queima de resíduos e de passivos ambientais (efluentes, óleos, solo contaminado, etc.) em fornos de cimento (ABCP, 2010 apud Arcadis Tetraplan, 2011). O coprocessamento utiliza os resíduos como substituição parcial do combustível que mantém a chama do forno, transformando calcário e argila em clínquer, a matéria-prima do cimento, ou seja, essa técnica de destruição térmica envolve o aproveitamento energético dos resíduos ou o seu uso como matéria-prima na indústria cimenteira sem prejudicar a qualidade do produto final (ABCP, 2010; ESSENCIS, 2011 apud Arcadis Tetraplan, 2011).
    Vantagens:
    Aceitação por parte dos stakeholders;
    Diminuição de custos com insumos, já que parte dos resíduos substitui a matéria-prima;
    Não geração de cinzas, pois toda a matéria queimada é incorporada ao produto final;
    Pouca complexidade para a obtenção de licença ambiental;
    Viabilidade na instalação se próxima a uma cimenteira;
    Redução significativa dos resíduos, minimizando os impactos ambientais;
    Elevado potencial de reaproveitamento energético dos resíduos.
    Desavantagens:
    Inviabilidade na instalação se distantes de cimenteiras;
    Inviabilidade de coprocessamento para resíduos perigosos devido à sua composição;
    Necessidade de controle de emissões atmosféricas.

    3. DISPOSIÇÃO FINAL DE RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS/REJEITOS

    • ATERRO SANITÁRIO
    Segundo a Norma Técnica 8.419 (ABNT, 1987), aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. Este método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se for necessário.
    Um aterro sanitário deve, obrigatoriamente, conter:
    • Instalações de apoio;
    • Sistema de drenagem de águas pluviais;
    • Sistema de coleta e tratamento de líquidos percolados (chorume) e de drenagem de gases formados a partir da decomposição da matéria orgânica presente no lixo;
    • Impermeabilização lateral e inferior, de modo a evitar a contaminação do solo e do lençol freático.
    Vantagens:
    Baixo custo operacional;
    Oportunidade de associação com outras tecnologias;
    Possibilidade de gestão consorciada;
    Potencial de geração de empregos;
    Tecnologia amplamente conhecida.
    Desvantagens:
    Geração de odores característicos;
    Possibilidade de exposição e risco aos trabalhadores;
    Necessidade de grandes áreas para o empreendimento;
    Resistência por parte da comunidade do entorno;
    Quando não bem operado pode apresentar os seguintes impactos:
    - Emissão de GEE,
    - Possibilidade de passivos ambientais,
    - Proliferação de vetores e doenças associadas.
    Há diversas técnicas que podem ser utilizadas para a construção de aterros sanitários, como: trincheira, vala, preenchimento de depressão e aterro para aproveitamento energético. A escolha da mais adequada depende da localização, área disponível, classe e quantidade de resíduos/rejeito, etc.

    (Fonte: As informações foram extraídas do estudo técnico desenvolvido pela consultoria Arcadis Logos para o Projeto GeRes, 2011)
    Legenda:
    Publicações do ICLEI

    OUTRAS PUBLICAÇÕES
    Folder – Modelo Tecnológico e de Gestão para Manejo de Resíduos Sólidos – SRHU/MMA (Download)



    • Folder – Orientações sobre a elaboração dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos – Projeto GeRes (Download)

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