terça-feira, 10 de abril de 2012

Dr. Rosinha: A caça do gay

10 de abril de 2012 às 12:26

A caça do gay

DR. ROSINHA, para o VioMundo

Li o artigo “La caza del gay” e não posso me conter, sou obrigado a divulgá-lo.
O escritor Mario Vargas Llosa, preocupado com os direitos humanos e a defesa da vida, escreveu no último dia 8 de abril, no “El País” (Espanha), um texto contra o preconceito e a impunidade. “La caza del gay” é um grito que Llosa dá, denunciando o assassinato de homossexuais na América Latina.
Conta ele que, na noite do último dia 3 de março, “quatro ‘neonazistas’ chilenos, liderados por um sujeito de apelido Pato Core, encontram deitado próximo ao Parque Borja, de Santiago, um jovem de nome Daniel Zamudio, ativista homossexual de 24 anos, que trabalhava como vendedor em uma loja de roupas. Durante seis horas, enquanto bebiam e se divertiam, dedicaram a dar socos e pontapés em Daniel, a apedrejá-lo e a desenhar-lhe, com cacos de vidro, suásticas no peito e nas costas.”
Ao amanhecer, Daniel foi levado para o hospital, onde veio a falecer após agonizar por 25 dias.
Este é mais um crime homofóbico. Homofobia esta que, pela discriminação e ódio aos homossexuais, tem se multiplicado em toda a América Latina.
Informa Vargas Llosa que Sebastián Piñera, presidente do Chile, além de reclamar uma punição exemplar aos criminosos, pediu ao parlamento para que aprove com urgência um projeto de lei que vegeta há sete anos no legislativo chileno. Está parado nas comissões por “temor de certos legisladores conservadores de que, aprovada esta lei, abrirá o caminho para o matrimonio homossexual”.
No Brasil também há um projeto de lei que condena a homofobia, e que tramita no Congresso Nacional há mais de 10 anos. No momento, pela mesma razão chilena, está parado no Senado da República. Enquanto isto, homossexuais são diariamente assassinados e agredidos, física e psicologicamente, em todo o país.
E, sobre estes crimes, os “homens (parlamentares) de boa fé”, que se opõem à aprovação do projeto, se calam. Qualquer semelhança entre Brasil e Chile, neste caso, não é mera coincidência.
“O mais fácil e o mais hipócrita é atribuir a morte de Daniel Zamudio só aos pobres diabos que se autodenominam neonazistas sem saberem sequer o que foi o nazismo. Esses tipos de crimes são frutos da repelente cultura de antiga tradição que apresenta o gay e a lésbica como enfermos ou depravados que devem ser mantidos a distância dos seres normais porque corrompem o corpo social e induzem o pecado e a desintegração moral e física.”
“A ideia contra os homossexuais e o homossexualismo é instalada, ou melhor, é ensinada na escola, é alimentada no seio das famílias, se predica nos púlpitos, se difundem nos meios de comunicação, aparece nos discursos dos políticos, nos programas de rádio e televisão e nas comédias teatrais, onde os gays e lésbicas são sempre personagens grotescos, anômalos, ridículos e perigosos, merecedores do desprezo e de rechaço dos seres decentes, normais e corretos.”
Llosa acerta no diagnóstico: a homofobia começa dentro de casa, no seio sagrado da família, é ensinada nas escolas e alimentada dentro de grande parte das igrejas.
Aparece semanalmente nos discurso e prática de muitos políticos, por isso não se aprova o projeto que criminaliza a homofobia, nem tampouco se permite a execução de políticas públicas de combate à homofobia.
Em seu artigo, Llosa relata também um fato ocorrido em Lima. Yefri Peña foi atacado na capital peruana por cinco ‘machos’ que lhe desfiguraram o rosto e o corpo, com o bico de uma garrafa quebrada. Por ser um(a) travesti, os policiais negaram auxílio e, no hospital para onde foi levado(a), os médicos também se negaram a atendê-lo(a), por considerá-lo(a) ‘um foco infeccioso’.
Sem dúvida, este e outros são casos atrozes, mas “seguramente o mais terrível de ser lésbica, gay ou transexual nesses países é a condenação cotidiana, a insegurança, medo, a consciência permanente de ser considerado (e chegar a sentir-se) um réprobo, um anormal, um monstro”.
“Quantos jovens atormentados por esta censura social de que são vitimas os homossexuais são empurrados ao suicídio ou a padecer de traumas que arruinaram suas vidas?”, pergunta Llosa. Com certeza, milhares no mundo.
Caro leitor ou cara leitora, as frases entre aspas e em itálico foram traduzidas por mim, mas, pela importância das próximas e por medo de distorcê-las, reproduzo-as em castelhano.
“Ante la homofobia, las ideologías políticas se funden en un solo ente de prejuicio y estupidez. Porque, en lo que se refiere a la homofobia, la izquierda y la derecha se confunden como una sola entidad devastada por el prejuicio y la estupidez.
El asunto no es político, sino religioso y cultural. Fuimos educados desde tiempos inmemoriales en la peregrina idea de que hay una ortodoxia sexual de la que sólo se apartan los pervertidos y los locos y enfermos, y hemos venido transmitiendo ese disparate aberrante a nuestros hijos, nietos y bisnietos, ayudados por los dogmas de la religión y los códigos morales y costumbres entronizados. Tenemos miedo al sexo y nos cuesta aceptar que en ese incierto dominio hay opciones diversas y variantes que deben ser aceptadas como manifestaciones de la rica diversidad humana. Y que en este aspecto de la condición de hombres y mujeres también la libertad debe reinar, permitiendo que, en la vida sexual, cada cual elija su conducta y vocación sin otra limitación que el respeto y la aquiescencia del prójimo.
Las minorías que comienzan por aceptar que una lesbiana o un gay son tan normales como un heterosexual, y que por lo tanto se les debe reconocer los mismos derechos que a aquél —como contraer matrimonio y adoptar niños, por ejemplo— son todavía reticentes a dar la batalla a favor de las minorías sexuales, porque saben que ganar esa contienda será como mover montañas, luchar contra un peso muerto que nace en ese primitivo rechazo del “otro”, del que es diferente, por el color de su piel, sus costumbres, su lengua y sus creencias y que es la fuente nutricia de las guerras, los genocidios y los holocaustos que llenan de sangre y cadáveres la historia de la humanidad.”
Pois bem, enquanto predominarem a estupidez e a hipocrisia entre a maioria dos “homens de boa fé”, homossexuais continuarão sendo assassinados.
Dr. Rosinha, médico com especialização em Pediatria, Saúde Pública e Medicina do Trabalho, é deputado federal (PT-PR). No twitter: @DrRosinha

Um comentário:

  1. Parabéns Dr. Rosinha. O sr. é um homem e um político que orgulha a espécie humana. Parabéns pelo blog também, está muito bom. As matérias tem muita informação qualificada.

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